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João Pedro Brandão
Trama no Navio
CD Carimbo Porta-Jazz 2020

 

 

Mesmo se João Pedro Brandão é um compositor muito interessante, a abordagem ao «O Couraçado Potemkine» que resulta em «Trama no Navio» é o oposto, do ponto de vista da concepção, da obra de Sergei Eisenstein.

«O Couraçado Potemkine» é provavelmente o filme mais significante da Revolução Russa, do ponto de vista político, mas de igual forma estético. Eisenstein era rigoroso na construção cinematográfica, meticuloso na direcção de actores, no olhar cirúrgico da objectiva ou na montagem; e ele foi um vanguardista, precisamente na montagem, no que deixaria uma plêiade de seguidores (entre os quais Manuel de Oliveira, que o refere explicitamente em «Douro, Faina Fluvial»).

Mas se Eisenstein desconhecia o significado da palavra improvisação, é precisamente essa a abordagem de Brandão, no ataque ao turbilhão de emoções de «O Couraçado Potemkine».

A composição é quase irrelevante; e se poderemos imaginar que a grandiloquência do filme justificou a escrita para orquestra (a Orquestra Jazz de Matosinhos da interpretação exordial), em «Trama no Navio» Brandão despojou-se dos ornamentos orquestrais, reduzindo-a ao osso.

A escolha dos actores é de igual forma relevante: Brandão escolheu aquelas personalidades, aqueles músicos (aqueles improvisadores) e aqueles instrumentos (poderosa secção rítmica e singular inclusão do órgão hammond), mesmo se ele (fluente e dramático nos saxofones alto e soprano e flauta) é a personagem central da construção da música.

Música lineal, mas intensa; livre, dramática, emocionante.

João Pedro Brandão (sa, ss, f, compo)
Ricardo Moreira (p, hamm)
Hugo Carvalhais (ctb)
Marcos Cavaleiro (bat)

(Este texto foi publicado no Jornal de Letras)